A RAPOSA E O PINTO II

21/08/2011 17:17

 

A RAPOSA E O PINTO II

 

 

Num local de trabalho pequeno, onde cada um executa inúmeras tarefas, é comum que os funcionários se revezem. Assim, todos sabem realizar as diversas tarefas da casa.Isso busca evitar que transtornos mais sérios ocorram quando algum colega precisa sair de férias, fica doente, ou quando se tem direito a folgas.

Mas independente de quanto se planeje o quadro de trabalho, quando se trata de atendimento ao público, há sempre os insaciáveis e imediatistas que supõem que os funcionários deveriam estar a postos unicamente para atendê-los. Uma situação ideal e impossível, realizável apenas se houvesse um funcionário para cada atendimento. Dessa forma, reclamações fazem parte do cotidiano.

E sejam razoáveis ou não, a chefia se mantém implacável diante das reclamações. Não há bom humor, nem dia de sol que não se abale diante de sua ira intempestiva. Náuseas, dores de estômago e de cabeça, são sensações comuns aos funcionários após os tornados da chefe.

Naquele dia se fazia necessário novo escalonamento de funcionários. No verso do papel, a responsável anotara todas as possibilidades de que poderia lembrar-se para que não ocorrerem falhas. Ao apresentá-las à chefe, sua fala mal se iniciou e foi abruptamente cortada por chicoteantes interrogações. Sua voz hesitava, não por desconhecimento de causa, mas porque lutava para que suas razões não escoassem no branco do abismo que abria-se em sua mente que, em vão, tentava esquivar-se do flagelo inevitável.

A chefia, com as costas eretas, o rosto imperceptivelmente inclinado em direção à funcionária, mantinha o semblante impassível, os olhos apertados como a perscrutar qualquer brecha para brandir. Diante de sua vítima buscando o equilíbrio diante do abismo, seus lábios, de leve, apenas de leve, tremiam, de um prazer, impróprio, inumano.

 

08/11