O BRINQUEDO

02/11/2011 17:49

 

O BRINQUEDO

 

O rapaz havia entrado na faculdade de engenharia. E ali continuava um percurso que havia se iniciado há anos. Um afogar-se em livros e cálculos intermináveis que o enrodilhavam numa taciturnidade que aos poucos, sem que o percebesse, o afastava gradativamente do convívio gratificante, pelo menos para os outros, que aos poucos desistiam de demovê-lo de sua jornada obstinante.

Mas eis que um dia, como trabalho escolar, teria de construir um carro com material improvisado e com minúsculo motor movido a pilha, uma única, das pequenas. Não, não servia as peças de Lego, esquecidas em uma caixa logo após os primeiros anos de infância.

E debruçou-se sobre a tarefa com o mesmo afinco que sobre os livros. Achou uma caixinha plástica vazia de pastilhas. Recortou-a grosseira e apressadamente com uma pequena faca de cozinha. Arrumou quatro tampinhas plásticas de refrigerante, unidas duas a duas por palitos de dente juntados, como tudo o mais, com durex, grosseiramente grudado.

E ao unir o fio que faria a ligação da pilha, fez-se o milagre - o treco movia-se densengonçadamente, como inseto atordoado, fazendo um barulho rouco. E ali uma conexão maior se fez, do rapaz com o menino, há tanto tempo esquecido. E veio o menino rindo, primeiro de seu brinquedo, depois  por ter saído de sua caixa escura.

E naqueles dias a sinfonia do riso solto e de um besouro enfeitaram a casa.

 

09/11