PEDINDO SOCORRO

06/08/2011 20:33

 

PEDINDO SOCORRO

 

 

Passara a manhã assistindo às aulas do cursinho. Agora, ao meio do dia, tencionava chegar rapidamente em casa, estava faminta. Pegou o ônibus que a levaria para casa, distante cerca de 20 minutos do cursinho. Àquela hora, o trânsito corria solto.

O ônibus estava relativamente vazio. Havia umas quatro pessoas à sua frente para passar pela catraca. Quando chegou sua vez, abriu a mochila, e ali onde deveria estar o bilhete plástico de ônibus, nada havia. Procurou pela carteira. Também não achou. Colocou a mochila ao lado do corpo e foi depositando sobre a mesinha do cobrador seus pertences: cadernos, lápis, caneta, borracha, bilhetinhos, figurinhas, chicletes, batom, inúmeros papéis de bala...e à medida que procurava, suas mãos se agitavam mais numa busca desesperada, a cor lhe sumindo da face. O ônibus parou em outro ponto.Sobe gente, e a mocinha ali, empacando a catraca. Começou a se formar uma fila atrás dela. Afobada, começou a guardar seus pertences na mochila e se espremendo entre os passageiros, em pé a um canto, teve a luminosa idéia de pedir socorro.

Sacou do celular e ligou para o pai: Pai!? Tô no ônibus indo pra casa e estou sem dinheiro...tá em reunião? Não dá pra sair e me trazer o dinheiro da passagem? Não precisa ser grosso!...Liga pro namorado; Oi môr! Me ajuda! Estou sem dinheiro da passagem ...não dá prá você me trazer? ...mas eu preciso, oi... oi...caiu a ligação!...Resmunga! Os demais passageiros, talvez por não querer constrangê-la ainda mais, não se manifestavam, aliás, nem lhe dirigiam o olhar. Na verdade, pareciam uma legião de pães-duros insensíveis à desgraça alheia. Impassíveis, apenas ouviam. Já com voz de choro e desespero, a mocinha tentava mais uma ligação: Mãe! Mãããe! Me ajuda! Urgente! O ônibus já está perto de casa e eu estou sem dinheiro...pega o carro e sai correndo e interdita o ônibus...mas mãe?! Mãe! Mãããe!!!....

A essa altura, o ponto onde deveria ter descido já ia longe e o cobrador, condoído, ou por receio da mocinha ter uma síncope, deu o clássico toque de moedinha no apoio de metal, dando o sinal ao motorista para passageiro poder descer pela frente sem pagar. Transfigurada, sentindo-se incriminada por calote no transporte público,sentiu o olhar de todos sobre ela e desceu pela porta por onde entrara, os ombros encolhidos, há mais de três quilômetros de casa. Arrastando o peso da mochila e da vergonha chegou depois de uma eternidade. Já não tinha mais fome.

 

07/2011