QUE MARX QUE NADA!

05/01/2015 21:43

QUE MARX QUE NADA!

 

A violência urbana, micro cosmo dos grandes embates mundiais, ocupa as mídias de toda espécie, desde os alternativos ‘cabeça’ que discursam sobre a desigualdade social, sobre a crescente massa populacional à cata das migalhas de um sistema capitalista ultra-selvagem.

Há também os sensacionalistas e que nos rodeiam no dia a dia, que vão desde o rádio do vizinho num volume de anunciação apocalíptica até às TVs de boteco e restaurantes em cada esquina, a tragédia a nos perseguir, meros seres viventes, levando-nos sem querer, a questionar quem dentre nosso conhecidos será o próximo com seu lúgrube direito ao minuto de fama televisiva. Nosso coração palpitante e angustiado, a muito custo retoma um ritmo normal, após o sensato raciocínio de que tudo não passa de uma grande armação da mídia mundial com o intuito de manter as massas imobilizadas pelo pânico...

Até que, um belo dia, manhã azul, sol quentinho, nenhuma nuvem no céu, bem em frente à minha janela no trabalho, dois carros param e começa a gritaria. De cada veículo emerge, como que do nada, uma figura neandertalesca ameaçando o outro (da mesma espécie) com uma imensa faca, daquelas de garçom gaúcho filetando a carne para deixar o sangue escorrer bem ao gosto do freguês. Vai continuar me seguindo???? Vai???: Vai??? A mulher, não sei de qual carro, pois eram absolutamente iguais com seus cabelos de frisos oxigenados, começaram com seus gritinhos, estilo filme de Hitchcock, a compor a trilha sonora.

Em minha sala, distante da batalha por uma janela gradeada, as pessoas se amontoavam, olhos estáticos, seus corpos se movendo mecanicamente, buscando o celular para ligar para a polícia. Tive a nítida impressão de estar assistindo aos personagens adultos de South Park, naquela movimentação descontínua quadro a quadro. O olhar fascinado pelo espetáculo televisivo ao vivo, bem ali à frente, na segurança do camarote improvisado.

De repente, o que ainda estava dentro do carro, como um grande herói, sacou (não sei de onde!), uma outra faca, muito, muito maior. Quase uma espada! Suas respectivas mulheres explodindo em gritinhos duplicados, como galinhas alvoroçadas diante da eminência de uma canjada.

É claro, que antes que a polícia chegasse (será que dá para atender a tantas chamadas simultâneas ou a central telefônica implode por excesso de carga?) os dois carros já haviam se mandado, e aos poucos, os bonequinhos de South Park se dispersaram.

Mas uma luz se fez em minha mente – a causa da discórdia entre homens, entre nações, não é de ordem econômica, nem de qualquer religião fundamentalista. É muito simples. E Freud já sabia disso. Ali estiveram duas pessoas do sexo masculino medindo quem tinha o bingulinho maior, a faca, a espada, ou seja lá o que for.

Que outro sentido teria esse rápido exibicionismo fálico a não ser a frustração machista de que o valor de um homem se mede pela atávica comparação do tamanho do pênis?

Mas loucas mesmo são as fêmeas que devem gritar pelo motivo de inconscientemente saberem que a qualquer hora, por qualquer motivo (e precisa motivo?), poderem ser sangradas, desossadas, e longe de caírem em uma panela, serem dispersadas em sacos pretos espalhados pela cidade, como material imprestável, peças de um quebra-cabeça sobre as quais se debruçam ávidos jogadores, digo, dedicados policiais.

 

12/2014