SEM VERGONHAS

07/06/2015 21:13

SEM VERGONHAS

 

O dia corria tranquilo, banal como qualquer outro. Duas da tarde em um outono paulistano, as ruas arborizadas de Perdizes, o caminhar lento de uma noite pouco dormida, o sol preguiçoso sob uma luz brumosa. Vou me tecendo sob o som do MP3 repetindo “menina amanhã de manhã”, com Monica Salmaso (adoro ela...!). Como uma prece, a felicidade a desabar sobre os homens, como gigantesca fatalidade...

 

Um senhor, de uns oitenta anos, parado junto a um muro a pouca altura, gradeado, me vê passar, me segura pelo braço, me aponta uma pequena flor, duas, solitárias ali no meio do verde, como marias sem-vergonhas, daquelas que dão-se quase sem querer...Viu que lindas? Para além das grades um imenso jardim de um condomínio. Mostro uma árvore muito, muito alta com uma trepadeira verde que a enlaça expondo-se em vasto buquê de corações que havia fotografado alguns dias antes. Ainda estão lá...

 

Me conta que, a despeito de ser paulistano, fora criado no interior, correndo sobre muros, atrás de passarinhos, de frutas...coisas que sua filha, seus netos desconhecem nesse universo frenético, volátil, imediato.

 

Sigo pensando na música, de que há sempre esperança, que a vida retorna a energia que se emana. Que é bom sempre se cuidar...

 

06/15