VERANITO

24/07/2011 19:42

 

VERANITO

 

No calor das cobertas, em pleno inverno, que no decorrer da noite me aquecem um pouco a mais, meio que me descubro. No aconchego da cama sonho, as águas do mar, mornas, translúcidas. E ao acordar e abrir a janela, luz transbordante invade o quarto e um vento morno anuncia o delicioso presente do veranito – preciosa pausa de cerca de quinze dias no frio úmido e cinzento de São Paulo e que geralmente ocorre no mês de julho.

Caminho em direção ao trabalho pelas ruas arborizadas de Perdizes, oásis em meio ao concreto repleto de um verde luminoso, maritacas e sanhaços azuis. O passo leve, MP3 ligado, ouvindo um poema de Rubem Braga em homenagem a Vinícius, a voz macia e instrumental de Monica Salmaso em Insensatez, e minha alma carioca se confunde com as ruas repletas de amendoeiras de Ipanema.

Comemorando o curto verão, apesar da secura do ar, um imenso ipê,silenciosamente, à noite, desfloresce atapetando a calçada de margenta. Talvez para fazer o paulistano, sempre apressado e cabisbaixo, olhar no chão o que lhe oferta o céu. Impossível evitar o espanto dos olhos e o desejo de caminhar em tão delicado chão.

E meio à frieza paulistana, as pessoas saem mais leves, menos roupas, coloridas, menos pressa. É preciso tirar o bolor do corpo sob o sol. Na soleira de uma casa, uma criança sopra bolhas de sabão.

E antes que, no decorrer do dia a poluição nos sufoque a garganta e tente barrar os ventos que vêm do mar, a manhã resiste em ser azul e preguiçosa, leve, amorosa, como os dias têm de ser.

 

07/11