A TRIBO DO ELVIS

07/09/2011 17:09

 

A TRIBO DO ELVIS

 

 

As pessoas aguardavam na fila para serem atendidas, em silêncio, disciplinadamente. E a fila não era tão grande. Umas sete pessoas, quase todos de meia idade a idosos. Mas uma pessoa destacava-se dentre o grupo. Era um jovem, não mais que vinte e poucos anos. Cabelo abundante, negro, como suas roupas. Tatuagens em preto esparramavam-se pelo braço e pescoço. Um brinco de argolinha contrastava com o lóbulo da outra, largamente dilatado por um anel grande.

Quando chegou a vez do jovem,  ele introduziu-se aflito junto à atendente: -Preciso de um médico!

-Você já é cadastrado aqui?

-Não.

–Onde você mora? Era uma rua de um bairro próximo, mas não pertencente à circunscrição daquele local de atendimento.

- Você deverá se cadastrar em outro lugar!

- Mas aqui é mais perto!

- É, mas não pertence a nós, tem que ser no outro mesmo!

- Mas lá é mais longe...moro tão perto daqui!

- É, mas não pode.

- Mas eu moro tão perto...vou ter de andar muito se tiver de ir ao outro posto.... Onde eu reclamo?

Enquanto isso as demais pessoas da fila mudavam o ponto de apoio, de uma perna para outra, a atendente aflita pela demora. Uma senhora já bem na terceira idade,magra, alta, braços cruzados como quem busca conter-se, uma pálpebra caída (talvez pelo exaustivo exercício de dormir com um olho aberto o outro fechado), de cima de seus saltos assistia com semblante absolutamente impassível à discussão que se alongava.

- Mas não tem telefone?

- Não, não tem funcionário pra atender telefone!

- Mas onde eu reclamo?

- Sei lá, procura na internet, saúde, ouvidoria, município...!

E com a mesma brusquidão com que se postou junto ao balcão, o jovem evadiu-se com ares de urgência.

A idosa, sem adiantar o passo foi logo soltando: É... o Elvis Presley com seu topete não consegue nem andar de casa até o posto de saúde, tem preguiça pra tudo. Na minha época, o Elvis pulava, não era essa lesmura...de só se mexer na frente de um computador!

Se mordesse a língua, seria uma a menos na fila, mas a agilidade da senhora continuava se mostrar na esgrima da comparação. E por alguns minutos a fila desfez-se. Acotovelaram-se todos junto ao balcão. E o assunto deixou de ser sobre o rapaz e se voltou para o Elvis (o que não morreu), Beatles, Elvis...e todos ali riram a valer, da alegria da paciência dobrada e conquistada ao longo de muitos anos, quando não havia tantas facilidades. Os caminhos eram percorridos a pé, mais demorados. Havia o prazer do percurso, do encontro fortuito, sem pressa, do bate-papo sem intenção, das cadeiras no final do dia na calçada ou o improviso junto ao balcão.

Que nome dar a essa tribo de vencedores sobre o tempo, o tédio e o mau humor? Não sei. Mas de longe eles ganham em jovialidade sobre as tribos de muitos jovens.

 

 

09/11