ANO NOVO

07/01/2012 19:17

ANO NOVO

 

Sempre dei mais importância ao Natal. A reunião de familiares e amigos, os presentes para as crianças, os enfeites e comidas tradicionais trazem a lembrança de aconchego e alegria.Mas as comemorações pela passagem de ano, embora não me entusiasmem tanto, têm em minha vida sua importância carregada que está no consciente coletivo e isso não permite que eu passe a data em brancas nuvens.

Era o ano de 1987. Recém saída de uma internação hospitalar de um mês em decorrência de um acidente de moto, mal conseguia andar. Durante a longa internação, tive o prazer de várias companheiras de quarto. Dentre elas, a filha de uma vizinha, internada por poucos dias por problemas renais. A mãe dela, sabendo que eu teria alta antes do final de ano e que estaria de molho em casa, prometeu-me antes de levar a filha embora presentear-me com uma ceia: uvas, pêssegos, carnes...

E o dia 31 chegou. Uma amiga-irmã que morava no apartamento em frente de casa e cujas filhas estavam em viajem com o pai, veio para casa à noitinha. Agraciada com forte mediunidade e recém adepta do tarô, nos entretínhamos com as cartas e rememorando lembranças. As horas passavam e a fome apertava. Vinte e duas horas, vinte e três, e nada. O estômago roncando, tudo fechado e nós duas completamente sem dinheiro. A cozinha, após um mês de internação, desabastecida. Era quase meia-noite e o jeito era aceitar que ninguém iria nos trazer uvas geladinhas e muito menos o restante digno de se chamar de ceia.

O jeito foi apelar para uma sopa de ervilha de saquinho e um único ovo cozido à pochér (afinal toda ceia exige um certo requinte) sobre o caldo grosso, irmamente dividido entre nós. Matamos a fome e o resto da noite, pela madrugada afora, rimos à valer com as jogadas de cartas. Todos os sonhos realizados: o trabalho ideal, dinheiro, namorados príncipes. E fomos dormir, exaustas de tanto rir, ricas de tanta felicidade, com um futuro repleto de possibilidades.

Tantos anos depois, ainda embalo com grande carinho aquela noite. Mas optei este ano por passar a virada do ano sozinha. De ceia, uma pizza  que eu mesma fiz. Guaraná geladinho. Ah, e uvas. Mas principalmente, o recolhimento e a gratidão pelas dificuldades superadas, por mais um pouco de maturidade conquistada, pelo apoio e carinho de inúmeros amigos, e meu sincero desejo de que no ano que entra a amizade nos una mais ainda a todos, enriquecendo-nos na troca de experiências nessa aventura da vida. Que Deus nos abençoe. Que eu possa retribuir a mão estendida àqueles que ainda tropeçam pelo caminho sem saber que isso lhes fortalece as pernas e alarga o coração. Que possamos olhar para trás e ver que tudo valeu à pena e que o amor, só o amor, entrelaça as pessoas superando as barreiras do tempo e do espaço.

 

12/11