CURTA NA TV

03/04/2011 17:58

 

CURTA NA TV

 

Com as mãos algemadas às costas, era trazido para a delegacia sob os trancos de policiais com rostos invisíveis à câmera de TV. Em primeiro plano, apenas a face do preso, magro, sujo, atormentado, xingando a tudo e a todos, qualquer um, qualquer coisa. Visivelmente sob o efeito de drogas.

Anunciado como indultado de Natal, era um verdadeiro apelo à manutenção perpétua de todos os suspeitos, infratores ou não.Segundo anunciavam, era condenado por roubo, furto e assassinato.Seus crimes pareciam meras fantasias ou no máximo contingências diante do flagrante lavrado: entrara em uma casa e ameaçou uma mulher e seus dois filhos, tudo isso por um celular que ele arrancou da mão da mulher.

De arma e celular na mão, o objeto tocou e vibrou. Em ato mecânico e ingênuo, o homem atendeu: era o marido da mulher, surpreendido via Embratel pelo assalto em curso. De carro, chegou em casa em menos de cinco minutos. Com barra de ferro em punho notou que a arma do outro era de brinquedo. Soltou o ferro e de punhos cerrados jogou-se sobre o assaltante. Orgulhoso, recontava a história toda e exibia um grande sorriso e as nódoas das mãos inchadas, em close, à câmera de TV.

O detido, todo esfolado, ainda está xingando e não sabe até agora que fez o papel principal num curta de assalto.

01/2011