No jornal matutino da TV, como num programa de variedades, a locutora anuncia para o próximo bloco de notícias, em clima de suspense, o que está sendo ecologicamente feito para iluminar uma praça de cidade de interior.
Após longos três minutos de comercial a que sou obrigada a assistir sem arredar pé de frente da TV, interessada que estou no ecologicamente correto, depois de umas duas matérias que nada tinham a ver com meio ambiente, eis que surge a imagem da bucólica praça de interior: os arbustos, simetricamente dispostos e aparados, e umas três luminárias, dessas econômicas, brancas e pálidas, com cara de iluminação de hospital. De fundo, uma voz anunciava como uma comunidade havia conseguido economizar, gerando energia gratuita para manter a singela praça a salvo das trevas noturnas, do por do sol ao raiar do dia...-”simples!”.
E eis que surge a imagem de três presos da cadeia da cidade pedalando três bicicletas ergométricas ligadas a geradores que armazenavam a energia que seria consumida durante a noite na dita praça. Ao ver os presos, com cara de enfado, naquela sala minúscula, transformada em sauna de Itaipu interiorana, com os joelhos se alongando e se contraindo sem pausa, senti meus próprios joelhos doerem.
Da época de gregos e romanos, passando pela Idade Média quando os condenados tinham como penalidade para seus crimes remar nas galés, nada evoluímos. Aliás, pena temível, naqueles tempos, ter a vida consumida nas galés. Mas agora, somos ecologicamente corretos.
Eis aí uma nova idéia verde que poderia ser patenteada: a substituição de navios repletos de petróleo ameaçando o ecossistema marítimo por galés movidas a turistas. E mais: os turistas teriam desconto na compra do pacote de viagem em troca de horas exercitando a musculatura para não fazer feio quando desembarcassem em alguma praia paradisíaca.
