HUMANIDADE

28/08/2011 16:57

 

HUMANIDADE

 

Um dia desses recebi um daqueles e-mails em Power-point. Mostrava inúmeras fotos de judeus flagelados pela loucura do nazismo. Menção ao não-esquecimento dos flagelos da guerra. É possível, em qualquer época o esquecimento diante do horror?

O e-mail exibia pilhas imensas de milhares de corpos inertes, covas repletas, o tenebroso trilho de trem que levava aos campos de concentração. Seres vivos, disformes pela falta de carne, o olhar vazio pela dor da hediondez vivida.

Mas havia uma foto diferente: mostrava oito crianças. Quatro de pé, atrás de um grupo de outras quatro sentadas sobre uma bancada de madeira. Todos nus, descarnados, cabeça raspada, tórax desproporcional ao abdômen vazio de há muito. Mas uma menina, que aparentava ter seus quinze anos, sentada em uma ponta da bancada, pousava para a foto.

Pernas e braços cruzados, mãos dispostas sobre o joelho, cabeça levemente inclinada, ostentava para a câmara um olhar gentil. Sua postura era tal que ali quase que se podia ver um lindo vestido florido, claro e esvoaçante, um chapéu de abas arredondadas, sapatilhas em seus pés femininos. E seu cabelo deveria ser tão sedoso quanto a doçura de seu olhar. Em seus olhos havia tanta dignidade e  civilidade, uma nobreza imanente, que em vão, tentou o nazismo aniquilar e roubar, por ignorância, por inveja diante da própria incapacidade de compreender a delicadeza que tece a vida.

O olhar daquela menina,encarando para além da câmera, desafia ao tempo e à barbárie, nos ensinando o que realmente é civilização.

 

 

08/11