O PADEIRO

09/03/2011 22:15

O PADEIRO

 

O padeiro, tarde se levanta

em sua aurora de por-do-sol.

Para o trabalho se vai

o padeiro! Na noite escura

 guiado pelas estrelas

fazer o pão nosso de cada dia.

 

E lá se vai o padeiro,

com os pulmões repletos

de noturno frio tibetano,

num silêncio esquecido

de ser sina humana

buscar o ganha-pão.

 

Como quem cultiva amor,

adiciona o padeiro,a doçura

do açucar ao acre fermento

produzindo o álcool borbulhante

de que sem embriaga

num brinde à paixão!

 

E em viagens a ermos desertos,

revolve o padeiro

a fina areia de infinitos grãos.

De sua miragem de águas salgadas

ondas se achegam, rítmicas,

pela medida de suas mãos.

 

Modela o padeiro,

de mar e areia

uma imensa nuvem

em seu castelo

de sonho e mármore,

de púrpureo estelar.

 

E retumba o padeiro

pela noite adentro

sua massa ao pulsar

de seu coração

que à sua semelhança adquire

elasticidade, firmeza, maciez...

 

Com a pureza da criação infantil

desenrola o padeiro

de sua nuvem inúmeras velas

inúmeros pequenos barcos

dourados ao sol

de seu imenso deserto.

 

E assiste o padeiro

ao navegar de sua criação

pela exaltação do suor que lhe escorre,

no fervor de sua prece, agradece

por ver repetir-se

o milagre da multiplicação.

 

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