O RATO-AVE

19/03/2011 19:30

 

O RATO-AVE

 

Outro dia assisti na internet a um vídeo sobre a última grande invenção de cientistas japoneses: um rato com parte do DNA de ave e que por causa disso, piava.

O rato em questão, apesar de sua total aparência de rato dos mais comuns, era um ser vivo que unia em si dois seres antagônicos, de espécies totalmente diferentes. Imagino que dependendo do tamanho de um e do outro, por exemplo, um gavião e um rato ou até ratazana, certamente o roedor levaria a pior. Ou então, poderia acontecer de ser uma ratazana frente a um indefeso pardal, atacando-o traiçoeiramente e devorando-o, dele não restando nenhuma pena.

Como conciliar no espírito de um ser forças tão diversas? Haverá quem diga que animal não tem espírito, do que discordarei totalmente. Toda vida constitui exemplar de uma espécie qualquer caminhando em sua lenta evolução, aprimorando seu molde físico e de identidade. Um dia terá a consciência individual de um cão, o poder do livre arbítrio do homem, a sabedoria e iluminação dos anjos.

Estará o tal “rato”, sim, porque, não saberia que nome dar a este ser, fadado a viver o doloroso desejo e instintos frustrados de nunca poder voar? Sentirá em seu âmago ser o inimigo de si mesmo? Sofrerá do diário dilema de dormir em uma toca ou em uma copa de árvore? Na hora de parir, colocaria ovos (e os comeria?), ou os pariria como qualquer mamífero? Ou pior, daria à luz sem poder amamentá-los?Comeria os frutos do próprio ventre como resultado de dantesco instinto predador ou sabiamente os comeria para por fim à espécie bizarra? Certamente, nem Frankenstein, resultante da junção de partes diversas de diferentes homens não teria tanto horror dentro de si. A despeito de sua fealdade, ainda assim, era um homem à imagem e semelhança do homem... e do cientista...deus! Espero que seguindo a regra de cruzamento de espécies diferentes que a nova criatura híbrida seja estéril, pois afinal, a Mãe Natureza sabe o que faz!

Antes disso, há muito a espécie roedora carrega o trágico destino de cobaia preferida de experiências, algumas, justificáveis, já resultaram positivamente em melhorias nas condições de saúde da espécie humana e mesmo de outros animais. Outras, nem tanto: na maioria das escolas na área de saúde ainda “estuda-se” os efeitos sabidamente nefastos de certos componentes em seus pequenos organismos. Registrados em compêndios e reproduzidos à exaustão, encobrem a necessidade vulgar e sádica ainda existente no ser humano.  

Outras experiências com o roedor se mostram simplesmente absurdas. Recentemente a internet exibiu a monstruosa foto de um rato que tivera uma orelha humana implantada sobre seu dorso, desproporcionalmente, quase que de seu tamanho. Se o próprio tecido humano desenvolve-se perfeitamente em laboratório para poder refazer áreas perdidas da epiderme de algum homem vítima de queimadura ou algo similar, a que se presta tal experiência? No mínimo, para fazer uma piada de mau gosto sobre a criação de um rato com apurada audição que adora escutar Beethoven.

Depois, surgiu um rato luminescente, um rato em neon, esverdeado. Serviria à economia de energia ou de alerta a assustadiças senhoras que de longe avistariam o asqueroso ser a tempo de subir tranquilamente na mesa? Ou melhor, não seriam atacadas de surpresa nem no escuro.

E agora, o rato-ave.

Sem ter dominado instintos tão primitivos que envergonhariam o mais feroz dos animais pela crueldade de que é capaz, terá o homem o direito ético de brincar de Deus?

 

01/2011