PAPAI NOEL

07/07/2013 17:29

PAPAI NOEL

 

Não haviam decorrido dois anos desde que se aposentara e viu-se obrigado a procurar serviço para engrossar os rendimentos. Não que fosse pobre. Tivera uma vida simples e boa, mesa farta que lhe permitira criar os filhos e uma imensa barriga que nessa altura de seus sessenta e tantos anos lhe vinha bem a calhar.

Tinha uma voz baritonal, um jeito pachorrento, gostava de crianças e então se candidatou ao bico de final de ano como Papai Noel. Só teve de se preparar uns quatro meses antes deixando a barba crescer. Precisava daquele dinheiro, mas só se lembrava dele quando ao final do Natal recebia o pagamento. Até esse dia, era só alegria. Apesar do calor, de alguns xixis na calça (sempre tinha uma muda de reserva no armário), adorava ver a felicidade da criançada. Sempre trazia no bolso, comprado com suas economias, pirulitos baratos para que os pequenos saíssem dali com uma  lembrança, doce como devem ser os sonhos de criança.

Não se incomodava quando algumas repetiam irritadas os nomes de brinquedos eletrônicos estrangeiros que ele desconhecia e não conseguia pronunciar. Enrolava a língua e prometia que elas iriam ganhar. E palavra de Papai Noel acabava com qualquer irritação. Mas aquele pequeno magricelo que subiu ao seu colo sem esboçar um sorriso, apenas achegou-se ao seu ouvido para pedir em segredo seu maior desejo. Indicando com o queixo a mãe grávida que o aguardava logo ali adiante, pediu: ”Papai Noel, meu irmãozinho vai chegar e nós não estamos nem comendo direito. Traz meu pai de volta!”. Naquele dia arrastou-se para casa vazio e sem sonhos, repleto de angústia.

 

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