RECOMEÇO

25/12/2012 18:37

 

RECOMEÇO

 

Caminhava lentamente rumo ao mar, a brisa marinha penetrando profundamente seus pulmões, a bruma convidativa. Ninguém especial, a não ser pelo espírito de criança, maravilhando-se diante de tudo. As bordas geladas alcançam transparentes seus pés como se achegasse à beira de imenso cálice. Mergulha a cabeça para saciar sua mais profunda fome e sôfrega sente a espuma a descer-lhe pela garganta. Erguendo-se, sente o ardor do sal em seus olhos, ajeita os cabelos escorridos para trás, lentamente, como num ato sagrado, o corpo fecundo pelo sêmen marinho. Prenha, do caldo da vida, de novas vidas. De todas as vidas, mesmo antes que Deus as libertasse para dar os primeiros passos hesitantes sobre a terra. Sabia que poderia sempre voltar-se ao colo de Deus, beber de seu liquido sagrado, que o recomeço é sempre possível.

 

12/12